sábado, 18 de março de 2017

SE A DEMOCRACIA QUER, SÓ A BOA POLÍTICA PODE



Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr.(*)

A democracia precisa da política, mas a recíproca não é verdadeira. No curso da História, não faltam exemplos de autoritarismos, populismos e socialismos sanguinários. A busca de um governo responsável, aberto e plural é uma experiência relativamente recente na história da humanidade, sendo a chamada “democracia representativa” o modelo contemporâneo da busca de realização prática daquele ideal ateniense. Todavia, ao redor do globo, surgem exemplos de povos subjugados a regimes de força, que usam o poder como um mecanismo de dominação popular, e não como um instrumento de legitimidade cívica e elevação das liberdades humanas.

Sim, a democracia não é uma promessa de perfeição; trata-se, essencialmente, de uma possibilidade de construção política pelo diálogo entre heterogêneos grupos de poder. Aqui, ao invés da hegemonia totalitária, exige-se apenas o estabelecimento de uma maioria eleitoral factível que, através de consensos mínimos, inicia um ciclo governativo temporário e limitado. Ou seja, não há poder democrático absoluto, o qual está em constante processo de fiscalização pública. Se as urnas elegem, os olhos do povo diariamente julgam.

Se liberdade, eleições e povo são fundamentais, o bom funcionamento orgânico do sistema democrático depende dos políticos. Eis o grande drama das democracias contemporâneas: a carência de homens públicos confiáveis, preparados e modelares. Ora, sem bons políticos, o voto apenas serve para escolher maus candidatos. Logo, precisamos voltar ao passado e resgatar os altos valores que norteavam o exercício digno da vida pública responsável. Enquanto a política estiver em mãos venais, a democracia seguirá sendo um negócio corrupto.

Algumas de nossas melhores personalidades dedicaram suas vidas à retomada das liberdades democráticas neste país. Embora não tenhamos o bom hábito do apreço à memória histórica, o viver tem infinitas possibilidades de recomeço. Não deixe que o tempo vá sem deixar uma contribuição duradoura. Afinal, depois do pó, só ficam as memórias. Que tal, então, fazer do hoje a oportunidade da luz amanhã?

Fonte: “Zero Hora”, 18 de fevereiro de 2017.


(*) Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado especializado em direito do estado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e em direito previdenciário pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Escreve sobre questões econômicas, políticas e jurídicas relativas à proteção das liberdades, da democracia, do progresso econômico e social e do Estado de Direito.

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